Glúten: Aliado ou vilão para o praticante de musculação?
O glúten é algo que devemos nos preocupar em ingerir ou é apenas um mito que a sua ingestão pode ocasionar problemas a saúde? E para nós praticantes de musculação, ele afeta nossos objetivos? Saiba já neste artigo!
“Contém glúten”, “Não contém glúten”.
Essas frases são obrigatoriamente presentes e referentes à rotulagem de
alimentos brasileiros, segundo a Lei nº 10.674, de 16/05/2003. Quem
nunca ouviu falar em dietas que retiram o glúten do cardápio muito
provavelmente não deve ter aberto uma revista qualquer relacionada à
saúde ou algo a respeito. Entretanto, ao passar por essas linhas
legislatórias, normalmente presentes ao final dos ingredientes no rótulo
de um alimento qualquer, passamos despercebidos por elas ou, muitas
vezes se quer entendemos sobre o que ela se trata. Acontece que, diante
de tantos fatos verdadeiros e de tantos mitos, fica realmente difícil
diferenciar em que podemos ou não acreditar.
Constantemente na mídia e entre a
sociedade, ouvimos diversas e controversas discussões com as mais
diferentes perspectivas e opiniões sobre o glúten, que
por muitos é tido como vilão e, por outros não representa nada mais do
que um nutriente típico de alguns alimentos. De uma forma ou de outra, é
impossível falar de protocolos dietéticos sem nos relacionarmos, não só
com a saúde, mas, com a questão estética também. Vista pela sociedade
contemporânea, como fundamental, mesmo que de maneira implícita, ela
acaba por ser ponto inicial para a utilização de conceitos que tornam-se
um tanto quanto modificados de acordo com o objetivo que se busca.
Mas, afinal,
o glúten pode ser considerado um vilão, uma simples opção, ou uma
salvação? Até que ponto o glúten pode interferir na rotina de um
praticante de musculação? Será que ele é prejudicial ou pode, de alguma
forma auxiliar em alguns protocolos dietéticos e, por sua vez, trazer
melhores resultados?
O que é o glúten?
O glúten é o termo
utilizado para designar uma fração (ou uma classe) proteica presente em
alimentos como o trigo, a aveia e o centeio. Essas proteínas,
normalmente ricas nos aminoácidos Glutamina
e Prolina são parcialmente impossíveis de serem totalmente digeridas
pelo organismo humano. Isso faz com que uma parte ou alguns vestígios
delas iniciem um processo autoimune, muito provavelmente na tentativa de
eliminar esses resíduos.
Entretanto, vastamente presente na
alimentação, principalmente do homem moderno, o qual costuma consumir
muitos dos derivados desses alimentos que contém glúten, como o
macarrão, os pães, biscoitos, e outros tantos, o glúten tem se mostrado
como vilão em muitos casos. Casos esses que, por sua vez podem ter
origem na genética do indivíduo, logo nos primeiros meses de vida ou
passar a ser desenvolvida com o tempo. Por exemplo, há uma relação entre
a microbiota intestinal que parece apontar fatores primordiais para o
desenvolvimento desta doença (chamada popularmente de intolerância ao
glúten, mas, corretamente de doença celíaca.).
Imunopatogênese da doença celíaca: Entendendo um pouco mais da doença
Basicamente, a doença está envolvida com
a destruição da mucosa do intestino delgado através da produção
sinalizada por um linfócito T Helper identificador do glúten para a
produção de citotoxinas pró-inflamatórias como a interferon-Ƴ. O
autoantígeno da doença celíaca, chamado de TTG desempenha um papel
fundamental nesse processo, por sua vez, iniciado pela conversão da
glutamina em ácido glutâmico o que, adiante, também iniciará outros
processos intracelulares.
O resultado desses eventos celulares
será, por sua vez, uma resposta autoimune, ou seja, das células do corpo
destruindo as próprias células do corpo (e gerando a destruição da
mucosa do intestino delgado, como citado anteriormente).
Apesar disso, não existem evidências
científicas que comprovem que o glúten, de fato pode causar a doença
celíaca (apesar de, para portadores da mesma, ele representar maiores
prejuízos).
O glúten ainda, em alguns casos, é
associado com o ganho de gordura, principalmente na região abdominal.
Não há nada cientificamente comprovado sobre isso, portanto, não podemos
acreditar, em suma. Muito provavelmente, por em alguns casos, causar
desconfortos abdominais e, consequentemente inchaços, ele pode ser
“associado” a esse aumento de volume abdominal, algo que, na verdade é
provisório, ou seja, enquanto o glúten e/ou seus resíduos estiverem no
trato gastrointestinal.
Alguns sintomas e consequências da doença celíaca
A doença celíaca pode
manter-se calada por um tempo indeterminado em um indivíduo, sendo
muitas vezes diagnosticada apenas na vida adulta, o que não é o ideal.
Entretanto, a mesma também pode ser desenvolvida durante o decorrer de
sua vida.
Entre os sintomas mais comuns da doença
celíaca estão a diarreia, a perda de peso, a fadiga, possíveis dores e
desconfortos abdominais. Além disso, a doença pode ocasionar a má
absorção de micronutrientes e causar ulcerações na parede do intestino
delgado.
Quando o glúten pode atrapalhar ou ajudar o praticante de musculação
Sabe-se que, a grosso modo, sem levar muito em conta a refeição completa em si, o glúten é uma proteína que demora a ser digerida
(ou, parcialmente digerida) pelo corpo (motivo pelos quais muitos
possuem desconfortos gastrointestinais frente ao seu consumo). Desta
forma, saber como e quando utilizar o glúten e, se isso pode ser algo
prejudicial é fundamental para um praticante de musculação.
Primeiro, vamos levar em consideração o
fator digestão, o qual talvez nos seja o mais importante: Sendo o glúten
de lenta saída do aparelho gastrointestinal, NÃO é conveniente que se
use em momentos MUITO próximos ao treino (como muitos costumam fazer um
shake imediatamente antes do treino com whey, frutas e aveia, por
exemplo). Isso prejudicará o fluxo sanguíneo para a musculatura
esquelética, tornando assim o rendimento relativamente menor. Como dito,
o glúten também pode gerar alguns desconfortos gastrointestinais,
o que pode não ser tão conveniente também. Além disso, cuidado:
Normalmente alimentos ricos em glúten também possuem uma quantidade
significativa de fibras alimentares, as quais também não representam bom
negócio nos momentos imediatamente antes ao treinamento.
Assim, ele torna-se conveniente, por exemplo, pela mesma propriedade citada anteriormente, para indivíduos que treinam nos primeiros horários do dia,
frente ao consumo na última refeição, por exemplo, pois, ele garantirá
uma gradual e mais lenta digestibilidade e não deixará o corpo em estado
de jejum quase que completo até o momento do treino. Obviamente, um
individuo esperto não optará por alimentos ricos em glúten como pão
branco ou biscoitos e, tampouco consumirá esses alimentos em quantidades
excessivas, mas, apenas suficientes e, dando preferências para
alimentos como a aveia, o macarrão integral ou bagels sugar free 100%
integrais.
O glúten ainda, pode não ser conveniente
quando utilizado em excesso nas dietas de bulking. Como dito, além do
fator das fibras alimentares, consideramos como um alimento de lenta
saída do trato gastrointestinal. Assim, sabe-se que esse aparelho, caso
sofra excessos e sobrecargas pela frequente alimentação, aliado a um
longo processo para digestão da mesma, pode ser prejudicado, fazendo,
inclusive, com que haja certa perda de apetite e o impossibilite de
comer na próxima refeição. Portanto, atenção!
Vale salientar sobre o consumo de
suplementos alimentares: Alguns suplementos alimentares, podem
apresentar glúten, o que pode não ser interessante ao praticante de
musculação que possua algum tipo de patogenia relacionada à proteína.
Alguns desses suplementos são: Barras de cereais e de proteínas,
Mingaus protéicos, sopas e massas protéicas, granolas protéicas, alguns
whey protein (normalmente os saborizados de cookies n’ cream), entre
outros. Vale lembrar ainda, que algumas Glutaminas de má qualidade também podem apresentar algum traço de glúten.
Conclusão:
Não há nada que prove, para indivíduos
saudáveis que excluir o glúten da dieta possa ser algo benéfico ou menos
prejudicial, tanto em termos relacionados com a saúde, quanto à
estética, associando o ganho de gordura, aumento de massa muscular ou
quaisquer outros fatores. Entretanto, uma atenção específica deve ser
dada aos celíacos, pois, apesar do glúten, de fato não desenvolver essa
doença, ele pode vir a agravá-la ainda mais, sendo necessário, portanto,
um acompanhamento nutricional específico para esses indivíduos.
Portanto, uma das poucas preocupações
que um praticante de musculação, que busca saúde e/ou estética deve ter é
quanto ao consumo de glúten. Utilizando uma diversidade de alimentos
dentro de uma vasta e completa dieta a qual seja devidamente equilibrada
às suas necessidades individuais e sempre utilizando o bom senso,
certamente não teremos por onde errar.
Lembre-se que quaisquer atitudes
extremáticas podem apresentar efeitos totalmente contrários aos que
desejamos, portanto, seja sempre um ponto de equilíbrio com seu corpo.
Artigo escrito por Marcelo Sendon